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Artículos:
Axiidae:
Uma nova família de lepidópteros em Portugal
João
Pedro Cardoso1 & Ernestino Maravalhas1,2
1
Tagis - Centro de Conservação das Borboletas
de Portugal
http://www.tagis.net
2 CIBIO - Centro de Investigação em
Biodiversidade e Recursos Genéticos.
Universidade do Porto
Resumen:
Se da a
conocer una nueva familia de lepidópteros de Portugal
(Lepidoptera: Axiidae), elevando a 72 el número
de familias registadas hasta la fecha en el país.
Palabras
clave: Lepidoptera,
Axiidae, biogeografía, Portugal.
Axiidae:
A new family of moths in Portugal
Abstract:
A new family
of moths (Lepidoptera, Axiidae) is reported for the
first time from Portugal, raising the number of Portuguese
families to 72.
Key
words : Lepidoptera,
Axiidae, biogeography, Portugal.
Introdução
O
conhecimento faunístico dos lepidópteros tem
evoluído significativamente em Portugal na última
década, com a adição de dezenas de taxa
(Passos de Carvalho & Corley, 1995; Corley et al., 2000;
Marabuto, 2003). As descobertas têm, em certas ocasiões,
sido significativas, com a descrição de espécies
novas para a ciência (e.g., Mey & Corley, 1999;
Corley, 2002). Apesar de tudo, o registo de novidades lepidopterológicas
refere-se normalmente a grupos taxonómicos básicos
ou intermédios, sendo raro conseguirem-se registos
novos das mais altas categorias sistemáticas (e.g.
Monteiro, 1985; Sousa & Quartau, 1998).
Este artigo visa dar a conhecer um grupo faunístico
totalmente desconhecido em Portugal. A adição
refere-se a um elemento taxonómico novo, desde o nível
superfamiliar (Superfamília Axioidea) ao da
espécie: Axia margarita (Hübner, 1813)
(Axiidae). Aumentase, assim, o conhecimento dos lepidópteros
de Portugal, elevando para 72 o número de famílias
de lepidópteros identificadas até ao presente
no país. Esta descoberta revela que há um longo
percurso a trilhar, até que a faunística de
lepidópteros de Portugal seja satisfatoriamente conhecida,
sendo de se admitir que existam por inventariar cerca de 300
a 500 espécies (Maravalhas, in prep.).
Material
e Método
Com
a finalidade de contribuir para a ampliação
do conhecimento da fauna lepidopterológica da região
de Setúbal, o primeiro autor vem realizando capturas
de material, numa fase inicial recorrendo à iluminação
pública e mais recentemente com armadilhamento luminoso
(lâmpadas de vapor de mercúrio) operado por um
grupo electrogéneo.
Material
observado: Águas de Moura (Palmela), distrito de Setúbal,
UTM 10kms: 29SNC27, a 40m, em postes de iluminação
pública: 29.IV.1995 1 %, 16.V.1998 1% e 20.V.1998 2
%% (João Pedro Cardoso leg. et coll.).
Discussão
A
família Axiidae, que aqui se identifica pela primeira
vez em Portugal, possui uma ligação filética
não resolvida, com alguns autores a posicioná-la
no seio dos Geometroidea e outros dentro da superfamília
Axiioidea (Minet, 1986, 1991). O diferendo deve-se à
localização dos órgãos sensoriais
(timpânicos), situados na base do abdómen nos
Geometroidea e no anel abdominal A7 nos Axioidea. Ainda de
acordo com Minet (1986) os Axioidea constituem um grupo afastado
dos Bombycoidea, pelo facto de as suas lagartas estarem desprovidas
de sedas secundárias.
Segundo Scoble (1995) a família Axiidae, de
que são conhecidas menos de 10 espécies em todo
o Mundo, possui distribuição Mediterrânica.
O género Axia Hübner (1821) encontra-se
representado na Europa por 3 espécies, das quais apenas
Axia margarita (Hübner, 1813) se encontra na Península
Ibérica. Freina & Witt (1987) referem a ocorrência
da espécie em Espanha, sudeste de França, norte
de Itália e Marrocos. Com esta descoberta, ampliase
o conhecimento deste taxon para ocidente.
As lagartas alimentam-se de plantas do género Euphorbia
(L'Homme, 1935), especialmente Euphorbia verrucosa
(Masó i Planas & De-Gregorio, 1986; Freina &
Witt, 1987). Até à presente não foi possível
localizar imaturos da espécie, apesar de existirem
bastantes eufórbias no local da descoberta, pelo que
se intensificarão as buscas para confirmar a manutenção
deste taxon.
Segundo De-Gregorio et al. (2001) a espécie possui
em Espanha uma fenologia tipicamente primaveril: o adulto
observa-se entre Abril e Junho. Em regiões mais setentrionais,
como a França, é um pouco mais tardia: voa de
Junho a Agosto (L'Homme, 1935). A fenologia detectada até
agora em Portugal, com registos em Abril e Maio, acompanha
a verificada no resto da Península Ibérica.
Conclusões
É
ampliado o conhecimento corológico de Axia margarita
(Hübner, 1823) no centro-oeste da Península Ibérica.
A oligofagia da espécie e a disponibilidade de recursos
tróficos (Euphorbia sp.) numa vasta área
do território português, levam-nos a admitir
que se encontre dispersa pelo litoral, entre a Serra da Arrábida
e Vila Real de Santo António, com eventuais incursões
noutras áreas termófilas, especialmente nas
do Alentejo e da Beira interior.
É igualmente aumentado o conhecimento faunístico,
com a adição de uma nova família de lepidópteros
à fauna portuguesa. O gráfico da figura 2 sintetiza
a faunística das principais famílias (n>10
sp.) de lepidópteros presentes em Portugal. Quando
comparada com a fauna espanhola, a portuguesa possui, tal
como aquela, uma concentração de taxa em grupos
familiares restritos: apenas 5 famílias registam mais
de 100 espécies: Noctuidae (412), Geometridae
(321), Pyralidae (238), Tortricidae (163) e
Gelechiidae (136). Há ainda um número
apreciável (11) de famílias monoespecíficas:
Eriocranidae, Hepialidae, Heliozelidae, Incurvaridae, Crinopteri-gidae,
Batrachedridae, Limacodidae, Thyrididae, Axiidae, Epipyropidae
e Pantheidae.
Agradecimentos
Os
autores agradecem a Martin Corley pela disponibilização
de dados faunísticos e a Albert Masó pela disponibilização
de alguma bibliografia.
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