ARACNET 11 - Bol. S.E.A., nº 33 (2003) : 87 - 89.
 
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Artículos:

Axiidae: Uma nova família de lepidópteros em Portugal
João Pedro Cardoso1 & Ernestino Maravalhas1,2

1 Tagis - Centro de Conservação das Borboletas de Portugal
http://www.tagis.net


2
CIBIO - Centro de Investigação em
Biodiversidade e Recursos Genéticos.
Universidade do Porto


Resumen: Se da a conocer una nueva familia de lepidópteros de Portugal (Lepidoptera: Axiidae), elevando a 72 el número de familias registadas hasta la fecha en el país.

Palabras clave: Lepidoptera, Axiidae, biogeografía, Portugal.

Axiidae: A new family of moths in Portugal

Abstract: A new family of moths (Lepidoptera, Axiidae) is reported for the first time from Portugal, raising the number of Portuguese families to 72.

Key words : Lepidoptera, Axiidae, biogeography, Portugal.



Introdução

O conhecimento faunístico dos lepidópteros tem evoluído significativamente em Portugal na última década, com a adição de dezenas de taxa (Passos de Carvalho & Corley, 1995; Corley et al., 2000; Marabuto, 2003). As descobertas têm, em certas ocasiões, sido significativas, com a descrição de espécies novas para a ciência (e.g., Mey & Corley, 1999; Corley, 2002). Apesar de tudo, o registo de novidades lepidopterológicas refere-se normalmente a grupos taxonómicos básicos ou intermédios, sendo raro conseguirem-se registos novos das mais altas categorias sistemáticas (e.g. Monteiro, 1985; Sousa & Quartau, 1998).

Este artigo visa dar a conhecer um grupo faunístico totalmente desconhecido em Portugal. A adição refere-se a um elemento taxonómico novo, desde o nível superfamiliar (Superfamília Axioidea) ao da espécie: Axia margarita (Hübner, 1813) (Axiidae). Aumentase, assim, o conhecimento dos lepidópteros de Portugal, elevando para 72 o número de famílias de lepidópteros identificadas até ao presente no país. Esta descoberta revela que há um longo percurso a trilhar, até que a faunística de lepidópteros de Portugal seja satisfatoriamente conhecida, sendo de se admitir que existam por inventariar cerca de 300 a 500 espécies (Maravalhas, in prep.).



Material e Método

Com a finalidade de contribuir para a ampliação do conhecimento da fauna lepidopterológica da região de Setúbal, o primeiro autor vem realizando capturas de material, numa fase inicial recorrendo à iluminação pública e mais recentemente com armadilhamento luminoso (lâmpadas de vapor de mercúrio) operado por um grupo electrogéneo.

Material observado: Águas de Moura (Palmela), distrito de Setúbal, UTM 10kms: 29SNC27, a 40m, em postes de iluminação pública: 29.IV.1995 1 %, 16.V.1998 1% e 20.V.1998 2 %% (João Pedro Cardoso leg. et coll.).

Discussão

A família Axiidae, que aqui se identifica pela primeira vez em Portugal, possui uma ligação filética não resolvida, com alguns autores a posicioná-la no seio dos Geometroidea e outros dentro da superfamília Axiioidea (Minet, 1986, 1991). O diferendo deve-se à localização dos órgãos sensoriais (timpânicos), situados na base do abdómen nos Geometroidea e no anel abdominal A7 nos Axioidea. Ainda de acordo com Minet (1986) os Axioidea constituem um grupo afastado dos Bombycoidea, pelo facto de as suas lagartas estarem desprovidas de sedas secundárias.

Segundo Scoble (1995) a família Axiidae, de que são conhecidas menos de 10 espécies em todo o Mundo, possui distribuição Mediterrânica. O género Axia Hübner (1821) encontra-se representado na Europa por 3 espécies, das quais apenas Axia margarita (Hübner, 1813) se encontra na Península Ibérica. Freina & Witt (1987) referem a ocorrência da espécie em Espanha, sudeste de França, norte de Itália e Marrocos. Com esta descoberta, ampliase o conhecimento deste taxon para ocidente.
As lagartas alimentam-se de plantas do género Euphorbia (L'Homme, 1935), especialmente Euphorbia verrucosa (Masó i Planas & De-Gregorio, 1986; Freina & Witt, 1987). Até à presente não foi possível localizar imaturos da espécie, apesar de existirem bastantes eufórbias no local da descoberta, pelo que se intensificarão as buscas para confirmar a manutenção deste taxon.

Segundo De-Gregorio et al. (2001) a espécie possui em Espanha uma fenologia tipicamente primaveril: o adulto observa-se entre Abril e Junho. Em regiões mais setentrionais, como a França, é um pouco mais tardia: voa de Junho a Agosto (L'Homme, 1935). A fenologia detectada até agora em Portugal, com registos em Abril e Maio, acompanha a verificada no resto da Península Ibérica.


Conclusões

É ampliado o conhecimento corológico de Axia margarita (Hübner, 1823) no centro-oeste da Península Ibérica. A oligofagia da espécie e a disponibilidade de recursos tróficos (Euphorbia sp.) numa vasta área do território português, levam-nos a admitir que se encontre dispersa pelo litoral, entre a Serra da Arrábida e Vila Real de Santo António, com eventuais incursões noutras áreas termófilas, especialmente nas do Alentejo e da Beira interior.

É igualmente aumentado o conhecimento faunístico, com a adição de uma nova família de lepidópteros à fauna portuguesa. O gráfico da figura 2 sintetiza a faunística das principais famílias (n>10 sp.) de lepidópteros presentes em Portugal. Quando comparada com a fauna espanhola, a portuguesa possui, tal como aquela, uma concentração de taxa em grupos familiares restritos: apenas 5 famílias registam mais de 100 espécies: Noctuidae (412), Geometridae (321), Pyralidae (238), Tortricidae (163) e Gelechiidae (136). Há ainda um número apreciável (11) de famílias monoespecíficas: Eriocranidae, Hepialidae, Heliozelidae, Incurvaridae, Crinopteri-gidae, Batrachedridae, Limacodidae, Thyrididae, Axiidae, Epipyropidae e Pantheidae.


Agradecimentos

Os autores agradecem a Martin Corley pela disponibilização de dados faunísticos e a Albert Masó pela disponibilização de alguma bibliografia.

Bibliografía

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CORLEY, M. F. V., A. J. GARDINER, N. CLEERE & P. WALLIS 2000. Further additions to the Lepidoptera of Algarve, Portugal (Insecta: Lepidoptera). SHILAP Revta. Lep., 28(111): 245-319.
DE-GREGORIO, J. J. P., J. MUÑOZ & M. RONDÓS 2001. Atlas fotográfico de los lepidópteros macroheteróceros íbero-baleares. 214pp. Argania Editio. Barcelona.
FREINA, J. J. & T. J. WITT 1987. Die Bombyces und Sphinges der Westpalaearktis. Forschung & Wissenschaft Verlag GmbH, Munique. 708pp.
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